Falsas moedas de cobre - Império. - Info Numismática Brasil

Info Numismática Brasil

Informação, compra, venda e troca de moedas, cédulas, medalhas antigas e atuais.

sábado, 27 de maio de 2017

Falsas moedas de cobre - Império.

Publicado pela Sociedade de Numismática Paranaense
Boletim nº 51 outubro 2012

Observando as imagens das moedas acima, notamos que se tratam de duas moedas falsas de cobre por seu desenho das letras mal feito e pela confecção grosseira em geral. Têm letras de tamanho irregulares e mal posicionadas, bordos também irregulares, enfim moedas grosseiras e feias.

Ao numismata em geral e em particular ao colecionador de moedas de cobre, algumas perguntas vêm logo à mente.

• Por que existiu tanta moeda falsa de cobre no meio circulante daquela época de Brasil Colonial e Primeiro Império?

• Quais as causas que levaram a tal situação?

• Por que as autoridades responsáveis não coibiram tal prática logo no seu início? Por que eram aceitas no comércio e nas repartições públicas, para pagamentos e recebimentos?

Esse tema já foi tratado por vários autores e muitos trabalhos publicados. Porém, pesquisando estas fontes, tentarei neste artigo resumir o que de mais importante encontrei sobre o assunto, de maneira que a leitura seja breve, agradável, e contribua para aumentar o conhecimento dos que se iniciam no conhecimento numismático destas moedas.

Fatores que determinaram ou contribuíram para que tudo isso acontecesse:
- Retorno de D. João VI, e sua corte, para Portugal.
- Proclamação da Independência do Brasil, e a resistência de tropas leais a Portugal.
- Dificuldades financeiras no início do Reinado de D. Pedro I após a Independência.
- Excessiva emissão de moedas de cobre, mal feitas e abaixo do padrão legal.
- Baixa credibilidade e aceitação dos papeis emitidos pelo Banco do Brasil da época.
- Desleixo e conivência das autoridades responsáveis da época.

Quando do retorno de Don João VI, e sua corte para Portugal, estes levaram consigo todo o ouro e prata depositados no então Banco do Brasil. Os que estavam de partida vendiam suas propriedades e bens que não poderiam levar e, resgatavam suas economias junto ao banco, trocando tudo por ouro e prata, deixando a Primeiro Banco do Brasil praticamente falido.

Don Pedro, que aqui ficou como Regente, para amenizar tal crise financeira, ordenou a emissão de excessiva quantidade de moedas cobre, pois era o único metal que dispunha e que poderia ser amoedado. Para este fim, chegou até a utilizar aparas de chapas de cobre que se encontravam no Mistério da Marinha.

Para agravar ainda mais esta situação, sua autoridade como Príncipe Regente, foi abalada com a retirada, de diversas de suas atribuições e poderes, pelo novo governo estabelecido em Portugal, bem como o comando das tropas portuguesas que aqui permaneceram.

Don Pedro assim assediado por tantas agruras foi aconselhado por sua esposa e diversos ministros, a se desvincular da autoridade de Portugal e proclamou a Independência do Brasil.

Logo após a Proclamação da Independência, nem todas as Províncias do Brasil aderiram a este ato, principalmente as Províncias do Norte, onde predominava nas administrações os portugueses que queriam permanecer fiéis ao governo de Portugal. Em particular na Cidade do Salvador - Bahia, que tinha uma esquadra portuguesa permanentemente estacionada sob o comando do Brigadeiro Madeira de Mello.

Os brasileiros natos e patriotas retiram-se para a Vila da Cachoeira, situada no interior do recôncavo Baiano e organizaram suas defesas. Criaram uma administração própria, inclusive com a transferência da Casa da Moeda da Bahia, quando então, em caráter de emergência e provisoriamente, foram cunhadas as conhecidas moedas LXXX da Vila da Cachoeira. Até a expulsão das tropas portuguesas estas moedas foram usadas no pagamento dos soldos e custeio do Exercito Pacificador.

Pessoas egoístas e mal intencionadas (falsários), se aproveitaram deste período de incertezas e do descontrole da excessiva quantidade de moedas de cobre legais, mas de baixa qualidade, para, também, porem as moedas falsas em circulação. Admite-se que os falsários contavam, às vezes, com o desleixo e conivência de algumas autoridades e comerciantes corruptos. Pois, para a confecção de moedas falsas, eram necessárias qualificação e experiência, bem como substanciais recursos financeiros para a preparação dos cunhos e aquisição de ferramentas e chapas de cobre e talvez algum suborno. Já antes, se falsificavam moedas de cobre no Brasil, porém, entre os anos de 1823 e 1829, foi o período mais crítico e intenso desta atividade criminosa.

Era muito comum, na maioria das Províncias do Norte e Nordeste o uso das chapas de cobre, importadas da Inglaterra, ser utilizadas com a finalidade de revestimento de cascos de barcos e navios ou também para a confecção de caldeiras de engenho para a transformação de caldo de cana em açúcar. A facilidade de acesso a esse material, bem como a emissão excessiva e baixa qualidade das moedas colocadas em circulação pelo próprio governo, tornou a atividade dos falsários em um delito muito vantajoso e de baixo risco.

O valor intrínseco (valor do metal de cobre) era 3 vezes inferior ao valor facial da moeda. Esta diferença aumentava muito o lucro da falsificação. Com uma libra peso de chapas de cobre que adquirida por 18 vinténs (360 réis), era possível se fabricar 2$000 de réis em cobre amoedado, gerando, portanto, um lucro de 1$640 (mil seiscentos e quarenta réis).

A falsificação de moedas era uma situação tão crítica que o governo da Província da Bahia, comunicou à corte do Rio de Janeiro que a proporção de moedas falsas era de 2/3 do meio circulante no comércio local, o que obrigava as próprias repartições públicas a aceitarem tais moedas, pois a recusa das mesmas causaria um colapso total no pequeno comércio, tipo gêneros alimentícios e de sobrevivência, o que afetaria principalmente as pessoas mais pobres e que eram, neste processo de fraudes e corrupção, as que menos tinham culpa.

Seria menos oneroso e mais socialmente justo que o Governo Imperial optasse por substituir as moedas falsas por moedas verdadeiras e a emissão de cédulas de resgate, o que foi iniciado em 1829 e que são conhecidas pelos numismatas como o troco do cobre. Porém, os lucros com a falsificação continuavam tão vantajosos para os falsários e o risco tão baixo que as falsificações continuaram a se disseminarem por outras províncias do império.

Entre 1833 e 1835 novas leis foram aprovadas e as moedas de cobre foram carimbadas com os conhecidos Carimbos Gerais, reduzindo seus valores pela metade nas moedas cunhadas na Bahia e Rio de Janeiro e, a um quarto do valor as das Províncias do Interior (Goiás, Minas e Cuiabá). Diminuindo assim o lucro e o estímulo dos falsários em tal atividade. Porém, a extinção definitiva desta prática só cessou mesmo com o termino da fabricação das moedas de cobre, que foram substituídas pela cunhagem de novas moedas de bronze e níquel, já no Segundo Império com Don Pedro II.

Sem dúvidas, moedas de cobre são as que têm mais história. Colecionando estas moedas e estudando estes episódios enriquecemos nossos conhecimentos sobre a história do Brasil.

Referências Bibliográficas:
PROBER, Kurt. Catálogo das Moedas Brasileiras de Cobre. Volume IX, 1957
PROBER, Kurt. Moedas Falsas e Falsificadas do Brasil, 1946
C. Amato, I. Neves, A. Russo. Livro das Moedas do Brasil - 12ª Edição. São Paulo, 2008
CAFARELLI, Eugenio Vergara. As Moedas do Brasil, 1922
CAVALCANTI, Amaro. O Meio Circulante Nacional - Editora Universidade Brasília, 1983
TRENTTIN, Alexander: O Derrame de Moedas Falsas de Cobre na Bahia - Universidade Federal da Bahia, 2010

Retirado do Site :http://www.brasilmoedas.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário