Produzir moeda no Brasil é mais caro Foto: Marcos De Paula/Estadão |
Fernando
Nakagawa, O Estado de S.Paulo
17
Abril 2017 | 20h27
BRASÍLIA - Dinheiro da Suécia circula
livremente no Brasil desde janeiro. Não estamos falando da coroa
sueca, mas do real brasileiro, especificamente das notas azuis de R$
2. Cem milhões dessas cédulas foram importadas de uma empresa sueca
e já estão na praça. Colecionadores de notas e moedas pagam até
R$ 4,99 por essa novidade com sotaque diferente.
Em setembro do ano passado, o Banco Central estava
preocupado com a capacidade da Casa da Moeda de imprimir dinheiro.
Após uma série de problemas que foram desde a quebra de
equipamentos até a descoberta de um esquema de corrupção dentro da
estatal para direcionar licitações, o governo editou uma Medida
Provisória que autorizou o BC a importar cédulas.
Dias depois da
assinatura, o BC fechou contrato com a sueca Crane AB para fornecer
100 milhões de cédulas de R$ 2 ao custo de R$ 20,2 milhões. Sem
licitação, a compra foi feita em caráter de emergência para que o
BC pudesse cumprir o cronograma de suprimento de cédulas do ano
passado. A MP permite a importação sempre que a Casa da Moeda
atrasar a entrega de notas ou moedas contratadas em 15%.
Responsável
por colocar o real em circulação, o BC defende a operação com uma
explicação bem simples: o próprio dinheiro. Mil cédulas de
R$ 2 impressas nos arredores de Estocolmo custaram R$ 202,05. O valor
é 17% menor que os R$ 242,73 pagos à Casa da Moeda por produzir o
mesmo milheiro em Santa Cruz, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Com o contrato assinado, as notas foram impressas,
trazidas ao Brasil e começaram a circular em 18 de janeiro. Não
houve anúncio da entrada dessas cédulas que são idênticas às
produzidas no Brasil. A novidade, porém, causou alvoroço entre os
colecionadores. Em fóruns, há debate sobre locais de aparição e
as características do dinheiro. Em uma página que negocia cédulas
e moedas raras, há quem ofereça até R$ 4,99 por uma cédula sueca
de R$ 2.
Para identificar o real estrangeiro, basta olhar a
série no verso das cédulas. Se a numeração começar com "DZ",
o dinheiro foi feito na Suécia. Outra maneira é observar o canto
direito onde a inscrição "Casa da Moeda do Brasil" foi
substituída por "Crane AB".
Apesar de alguns pagarem ágio nas notas
importadas, essas cédulas não são tão raras assim. Segundo o BC,
foram produzidas 100 milhões na Suécia e atualmente circulam 948,5
milhões de notas de R$ 2 da família criada em 2010. Então, uma a
cada dez cédulas azuis com a tartaruga marinha vieram de Tumba,
bairro no sudoeste de Estocolmo.
Essa não foi a primeira vez que o Brasil importou
dinheiro. Em 1994, o Banco Central teve de comprar notas de
fornecedores estrangeiros para a histórica operação da troca dos
cruzeiros reais pelos reais. Antes disso, até a década de 1960, as
cédulas brasileiras também eram impressas no exterior.
A título de informação, o leitor GOYTÁ F VILLELA JR diz:
Pesquisei sobre essa Crane AB e ela tem uma
história interessante. Eu estava intrigado com esse nome inglês de
uma empresa sueca, mas na verdade é uma empresa americana de mais de
200 anos de idade, que já imprimia dólares no tempo das
diligências. Há alguns anos, o Banco Central sueco privatizou a
Casa da Moeda de lá e a Crane comprou a operação. É ela que
imprime todas as cédulas da coroa sueca. Hoje a matriz americana
apenas produz o papel especial para impressão de cédulas e vende-o
para Casas da Moeda (inclusive a nossa) e para outras firmas de
impressão de dinheiro, e a subsidiária sueca faz serviços de
impressão. O "AB" no nome é simplesmente a abreviatura em
sueco para "sociedade por ações", ou seja, equivale à
nossa "S.A."
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